sexta-feira, 12 de junho de 2009

O AMOR NÃO SE BASTA!

Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no
ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga. Tudo o que todos querem
é amar. Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras.
Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça
revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado.


Tem algum médico aí? Depois que acaba esta paixão retumbante, sobra o que?
O amor. Mas não o amor mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar.
O que sobra é o amor que todos conhecemos o sentimento que temos por mãe,
pai, irmão, filho. É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo.
Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de
saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja.



O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares,
ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não
há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver
nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos
fragiliza, e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação
que poderia ser eterna. Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo,
mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que
declarações românticas.
ntre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais
do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso.

É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero. Disposição
para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência. Amor, só, não basta. Não
pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para
acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom
humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem
que saber levar. Amar, só, é pouco.


Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar
tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas prá
pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.
Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar. Entre casais
que se unem visando a longevidade do matrimônio tem que haver um pouco
de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo prá cada um. Tem
que haver confiança. Uma certa camaradagem as vezes fingir que não viu,
fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não
significa, necessariamente, fusão.


E que amar, "solamente", não basta. Entre homens e mulheres que acham
que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade.
Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que
sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois. É preciso
convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o
ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se
basta .

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