terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Perdão



Não há maior punição do que o castigo infligido pela voz da nossa própria consciência.

Somos humanos, somos imperfeitos...

Traçamos no papel da nossa vida um caminho, mas esquecemo-nos dos desvios, das distrações invisíveis que o lápis resolve não pintar.

Quando essa voz nos fala é sinal que o arrependimento encontrou traços das nossas imperfeições... (somos humanos, não somos perfeitos) e começamos então a grafitar ondas de incertezas, de desconforto, de desilusão com um carvão mais forte que borrata toda a folha do papel... e depois as lágrimas sujam-na ainda mais fazendo-nos acreditar que a página deveria ser arrancada... que o papel não tem mais utilidade...



Somos humanos, somos imperfeitos... logo também temos pensamentos imperfeitos (mas ainda bem que temos pensamentos).



Pior que um castigo externo e sistemático, proveniente de factores magoados, depois de se haver feito o MEA CULPA e se arcar com as consequências dos actos verdadeiramente arrependidos é o sentir que nos arrancam permanentemente a crosta da ferida numa tentativa de não permitir a sua cicatrização, como que a obrigar o arrependido a nunca se esquecer dos seus actos menos reflectidos.




É garantido que quem se arrepende verdadeiramente sofre horrores com essa consciencialização, por isso ninguém tem o direito a humilhar quem, em silêncio, já vive humilhado, ninguém tem o direito a destratar quem já se auto-destrata, seja lá qual fôr o motivo, seja lá qual fôr a razão...



Quando erramos e nos arrependemos precisamos de sentir o perdão daqueles a quem faltamos, o mesmo perdão que precisamos ouvir da boca e dos actos daqueles que connosco falham...

Quando erramos e pedimos perdão e não nos querem perdoar, não nos devemos esquecer que não está nas nossas mãos tomar decisões por outros, mas devemos sempre lembrar-nos que esses outros não terão jamais o direito de nos fazer sofrer, de nos humilhar, de nos culpabilizar eternamente, porque ninguém tem o direito de magoar ninguém.



É duro ouvir um "não te perdoo" quando se sente verdadeiramente a dor do arrependimento, mas mais duro é ouvir a voz da consciência permanentemente a atacar-nos com pensamentos menos positivos a nosso próprio respeito só porque o "não te perdoo" insiste em despir vergonhosamente a ferida com o intuito de humilhar. Basta! Há um tempo para ouvir basta! Há um tempo para dizer basta!



O remédio eficaz para se conseguir novamente retomar o caminho inicial traçado por nós no papel da nossa vida é de digestão dificil, mas existe, chama-se perdão... o mesmo perdão que não nos quiseram, souberam e/ou puderam dar. Nós precisamos pedir perdão à nossa própria consciência para conseguir sentir que não é pelo facto de se ter errado que devemos ser punidos eternamente, seja lá qual fôr o tempo da eternidade.


Não é mesmo nada fácil, mas na vida o que é que chega a ser fácil?

Penso que seja este o caminho para nos trazer de volta a paz de espírito, porque o perdão vem de um lugar sincero... o coração.



(To whom it may concern)

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